De:
Antonio Carlos/Osnir Veríssimo/Ézio Fernandes
Interpretação:
CONJUNTO OS PRATEADOS
(CLEMILTON,
ANTONIO CARLOS E OSNIR)
Bernardo Cruz
Costura,
costura
Pra dentro e pra
fora
No carnaval
Rebola, rebola
Paquera e namora
Da Palmeirinha
A Frei Serafim
Pelas esquinas
E nos botequins
Bebe conhaque
Com amendoim
Roda a baiana
Pro seu arlequim
“Agulha de ouro”
Faz terno bacana
Cai na gandaia
Liso sem grana
Na quarta-feira
“Tesoura”
a fulana
De sua choupana
Todo mundo
querendo puxar
Sua peruca de
pega rapaz
Os culpados dessa
confusão
“Será quem foi?”
- Zé de Moura, Valdênio
e Chicão!
Bernardo Cruz, filho do Maranhão, foi acolhido por nós
teresinenses no ano de 1955. Tornou-se um alfaiate famoso e muito solicitado
pela alta sociedade (políticos) de nosso Estado e também conhecido no Senado e
Câmera Federal pelos seus belíssimos ternos.
O carnaval era a sua grande paixão. Bernardo Cruz foi o
primeiro homem a se vestir de baiana e desfilar pelas ruas de Teresina. Seu
aperitivo favorito era Conhaque São João da Barra e tira gosto de “mindubi”.
Mesmo com todo talento, Bernardo Cruz vivia em precária
situação financeira. No final da década de 90, mudou-se para a Cidade de Timon
e logo depois veio a falecer.
Remota lembrança de um corso
26 de Fev de 2012
Decididamente, não me afino com as chamadas festas populares. São João, Natal,Révellion e Carnaval poderiam sair do calendário sem alterar minha rotina. Antes que me atirem pedras, uma explicação: não tenho nada contra festas grandes ou pequenas. Tenho tudo contra a alegria compulsória. A obrigação de parecer feliz para estar em sintonia com o rebanho é o que me desagrada. Em outro momento, já afirmei que pesco as minhas alegrias em águas rasas com anzol de linha curta. Não persigo a felicidade como escafandrista ou alpinista em busca de recorde; limito-me a fruí-la, em doses homeopáticas, quando ela decide visitar-me. Nada além.
Voltemos ao tema que deu origem a essa arenga. Recém-chegado a Teresina, eu não sabia da existência da palavra corso.Eis que, numa tarde de fevereiro, ouvi o som de uma marchinha tocada por uma charanga desafinada. À época, eu morava na Des. Freitas, mais conhecida como Rua da Estrela. Corri para a porta e deparei-me com o tal corso. Na verdade, meia dúzia de carros, algumas carroças, uma centena de pedestres sujos de talco, Maizena, farinha de trigo e coisas menos nobres. Nas calçadas, a plateia atirava papel picado, serpentinas e esguichava líquido das mais diversas procedências. A maioria dos foliões era constituída de homens fantasiados de mulher. Lá pelas tantas, despontou a grande estrela da festa: um cidadão negro, meio roliço, idade inescrutável, fantasiado de baiana. Como uma porta-bandeira, sem a companhia do mestre-sala, fazia evoluções,parava, sorria e mandava beijinhos para a plateia, que ia ao delírio. Era Bernardo Cruz, alfaiate por necessidade e folião por gosto e vocação.
Consta que, num certo carnaval, Bernardo Cruz não desfilou. Consternação geral: sem a figura da baiana rechonchuda, o corso era apenas um mela-mela. Dias depois, no famoso Restaurante Sapucainha, um médico brincalhão encontrou-se com o Bernardo Cruz. Não se conteve:
- Bernardo, você quase acabou com o carnaval de Teresina!
- Eu sei, mas eu também quase morri, doutor. Você não soube?
-Não. O que aconteceu?
- Fui atropelado por uma carroça. Passou por cima do meu pé!
- Peraí, Bernardo, isso é motivo suficiente pra matar alguém?
- Não, doutor, mas quando vi o estrago no pé resolvi me matar!
- Matar-se?!
- Doutor, você já viu vedete e cavalo de corrida fazerem sucesso mancando? É melhor uma morte honrosa...
Festas pobres para uma cidade pobrezinha. A cidade cresceu e tudo mudou: este ano, se bem entendi, o corso de Teresina entrou para o Guinness Book como o maior do mundo. Não sei exatamente o que isso representa para a cidade, mas pela repercussão, deve ser algo muito importante. Brava gente!
Texto: Professor Cineas Santos